Ou quando as vozes na minha cabeça concordam em dizer algo.
Bem-vindos!
Sejam bem-vindos! Este blog é uma tentativa de exercitar a insanidade de modo construtivo ou de destruir convenções via sanidade. Tanto faz. Caso você se pergunte sobre a minha seriedade aqui, explico com um trecho do Principia Discordia:
"- Você fala realmente sério, ou o quê? - Algumas vezes eu trato o humor seriamente. Algumas vezes eu trato a seriedade humoristicamente. De qualquer forma, é irrelevante. - Talvez você só seja maluco. - Verdade! Mas não rejeite estes ensinamentos como falsos só porque eu sou maluco. A razão pela qual eu sou maluco é porque eles são verdadeiros." Namastê!
Esta é a segunda parte do relatório que reúne provas concretas e indisfarçáveis da realidade da Matrix. Pra entender melhor, veja a primeira parte do relatório.
Ao contrário do blog, estou bastante agitado e cheio de novidades. Assim, fiquei meio sem tempo pra novas postagens, mal que pretendo remediar em breve. Por hora, só pra movimentar um pouco isto aqui e em nome do saudosismo, resolvi relembrar um clássico... Quem não conhece o Mr. Trololô?
Depois, nos videos relacionados, vocês podem (re)vê-lo cantando pra Hitler, conhecer Trololord Vader etc etc etc... Você está certo, caro Lucas: recordar é mesmo viver...
Após 30 anos de busca, a verdade me veio como um eureka na banheira.Embora eu não tenha corrido pelado pelas ruas, a descoberta me perturbou profundamente. Afinal, uma coisa é desconfiar, outra é ter certeza: a Matrix existe, semelhante ao filme. A realidade “física”, “externa”, que você conhece é mesmo um “sonho” criado para nos ludibriar e entorpecer.
Mas eventuais falhas no véu de ilusão poderiam expor a farsa, como quando o projetor do cinema estraga no meio da sessão, “cortando do clima” e, num estalo, nos fazendo perceber o quanto estávamos hipnotizados pelo faz-de-conta. Ciente disso, sempre procurei tais falhas. Assim, minha investigação acabou por revelar que a Matrix deu reveladores “tilts” ao longo da história recente. Mas o acobertamento foi eficaz e quase ninguém percebeu as reais implicações. Por isso, reuni as provas e escrevi este dossiê. Pra reduzir o risco de você correr por aí como Arquimedes, algumas explicações iniciais poderão amenizar o impacto da verdade:
Um dia, Descartes parou e pensou: “Do que eu posso ter certeza? E se tudo isso ao redor for mentira, uma miragem?” A mesa, a casa, o céu, as pessoas, tudo poderia ser uma ilusória e persistente artimanha (um gozo perverso, Freud diria) de um gênio maligno sem nada melhor pra fazer. “E se toda vez que somo 2+2, o demônio me mostra a mesma resposta errada?” Como provar que não é esse o caso? Ao fim, a única certeza de Descartes era sua própria existência, pois aquelas dúvidas existiam, provando, ao menos, que o pensador delas existia. Se ele era de carne e osso, uma alma sem corpo presa em uma ilusão demoníaca ou um cérebro num jarro e ligado a eletrodos (como filosofariam mais tarde), isso era outra história.
Por sua vez, o ceticismo filosófico questiona seriamente a possibilidade de termos certezas absolutas (mesmo das coisas mais óbvias). Seus rivais do pragmatismo retrucam, dizendo que tanto faz a natureza última do que chamamos de realidade; viver como se ela fosse real bastaria.
Refinamentos à parte, o ponto aqui é: Você não precisa questionar tudo o tempo todo (pois, do contrário, talvez sequer fosse ao banheiro, diante da possibilidade do chão subitamente revelar sua inexistência concreta e largá-lo em um vazio infinito). Mas não custa ficar atento a pistas de que algumas (ou várias) coisas podem não ser o que aparentam. E talvez, a depender das evidências e/ou das implicações, valha a pena levar o conselho às últimas consequências...
O filme Matrix foi uma das tentativas mais interessantes de mostrar o princípio (tal como o RPG “Mago, a Ascensão”, a alegoria platônica da caverna, os gnósticos, entre outros tantos). O problema é que muita gente (a imensa maioria?...) mergulhou ainda mais na ilusão, naquilo que chamo de “efeito Arquivo X”: os “tilts” ou anomalias que desmascarariam a ilusão são depreciados como devaneios que fãs de ficção científica, masturbação mental etc. Perdi a conta do quanto já me disseram: “Você vê Arquivo X demais”. Assim, as anomalias ficam tão estigmatizadas enquanto “viagem” que a massa pouco crítica facilmente as subestima ou ignora no mundo "real". Como disse Morpheus,
“Matrix é um sistema, Neo. Esse sistema é nosso inimigo. Mas quando você está dentro, o que você vê? Empresários, professores, advogados, carpinteiros, as mentes das pessoas que estamos tentando salvar. Mas até conseguirmos, essas pessoas ainda são uma parte desse sistema, e isso faz delas nossas inimigas. Você tem que entender, a maioria dessas pessoas não está pronta pra ser desligada. E muitos deles são tão acostumados, tão desesperadamente dependentes do sistema, que vão lutar pra protegê-lo”.
Cansado da situação, reuni neste documento ampla quantidade de vídeos que provam a existência da Matrix. Coleciono tais vídeos há muito tempo e agora julgo reunir corpo suficiente deles pra demonstrar minha tese. São vídeos comuns, aparentemente feitos por pessoas comuns. Mas, de modo descarado, registram momentos em que a “realidade” perde sua ilusória coerência e revela uma cósmica “pegadinha do Malandro”. Então você terá seu eureka e conhecerá evidências irrefutáveis de falhas na Matrix muito maiores e reveladoras que um gato passando duas vezes. Você poderá notar, inclusive, a exatidão das palavras do Oráculo em Matrix Reloaded (“Matrix 2”), quando disse a Neo que fantasmas, anjos, alienígenas e quaisquer seres estranhos vistos por aí são programas antigos que se esgueiram pela Matrix. Assim, você poderá ver alguns desses seres nos vídeos também.
O crítico rebaterá que vídeos podem ser falsificados. Verdade. Mas, neste caso, mesmo a falsificação é evidência direta da existência da Matrix. Não há como negar o caos completo ali registrado quando a "realidade" dá tilt e o véu de ilusão se rompe. As imagens são fortes e muito difíceis de assimilar. Mas lembre-se de Heráclito de Éfeso: “Por ser às vezes tão inacreditável, a verdade deixa de ser conhecida”. Como são muitos vídeos, colocarei alguns abaixo e outros nos comentários do post. Mais evidências se encontram distribuídas pelo blog.
Em Matrix Revolutions (“Matrix 3”), o Arquiteto (o Demiurgo em pessoa) diz que somos agora livres pra acordar quando quisermos. Então, após ver as provas abaixo, use seu livre-arbítrio sabiamente e responda: pílula azul ou vermelha?
A 4ª temporada de TBBT acabou. Enquanto aguardo a 5ª, penso na magia que o fim de um ciclo desperta: a revisão crítica.
A 1ª temporada me surpreendeu positivamente. Embora lotada de caricaturas, como nerds socialmente inaptos e a vizinha gostosa/inculta, a série tinha um diferencial que valia a pena: muitas piadas eram sobre ciência ou tinham nela um componente vital. Sheldon fantasiado de Efeito Doppler é um exemplo clássico. Como se isso já não fosse ótimo, tantas outras piadas tinham em ícones nerd (filmes, séries, jogos, livros clássicos...) semelhante alicerce. A cena do RPG online em que o Sheldon rouba e vende a espada pro Howard no eBay é fantástica. Não tinha como eu não gostar.
Então vieram a 2ª e 3ª temporadas, quando a série alcançou maior sucesso e os ditames da audiência me pareceram pesar. As piadas então se concentraram exclusivamente nas esquisitices dos personagens, em detrimento dos ícones nerd e, principalmente, da ciência. A cada cena, os personagens pareciam jogar tortas na própria cara e gritar: “Olhe como sou esquisito! E olhe como isso é engraçado!” Como principal exemplo, as características da síndrome de Asperger cristalinamente presentes em Sheldon fizeram dele o personagem mais popular. A coisa virou uma espécie de “Friends nerd”, com direito ao retorno de Rachel e Ross (Penny e Leonard). Haja estereótipos. Não digo que não ri em tais temporadas ou que as piadas com conteúdo da 1ª não se nutriam também das esquisitices. Mas algo importante havia se perdido.
Alguns argumentaram que as piadas “científicas” e nerdísticas (adoro neologismos) eram inacessíveis ao grande público, e que a série agora havia se tornado mais inteligível. Se Sheldon ouvisse, ele provavelmente rebateria, acusando uma falácia da falsa dicotomia. Isso porque uma forma de piada não exclui a outra, como a 1ª temporada confirmou. Os primeiros roteiros também mostraram que o não-entendimento da piada “hermética” era em si uma (ótima e interativa) piada, como quando (não canso de lembrar) ninguém entendia a fantasia de Efeito Doppler do Sheldon, mesmo quando ele explicava. Além disso, pensando em uma TV mais útil, quão legal seria se clássicos da literatura, teorias científicas, biografias de grandes pensadores etc. fossem cada vez mais mostrados como interessantes, ao invés de menos...
Foi quando os deuses nérdicos (Arthur C. Clarke, Carl Sagan, Allan Poe...) ouviram minhas preces e as piadas sobre ciência e afins voltaram na 4ª temporada. Só pra exemplificar, aquele episódio das fofocas enquanto memes foi dos melhores. Também foi extraordinária a metralhadora de piadas científicas que o Sheldon bêbado se tornou em seu discurso de premiação. E assim, TBBT foi como Bilbo Bolseiro, “lá e de volta outra vez”, das piadas verdadeiramente nerdísticasa elas novamente. Agora posso dizer que aguardo ansioso a 5ª temporada.
Alarmem-se, crianças: o temido apocalipse zumbi, para o qual temos nos preparado nos últimos anos, pode já ter começado!! Bom, isso você já anunciou no título... Eu sei que anunciei, Zé. Mas foi o jeito impactante que achei pra começar o texto... Mas, se você já disse no título, a repetição no texto não produz impacto algum. Zé, volte pra sua aula de fondue e me deixe continuar. Bom, não me refiro a teorias conspiratórias, indícios dúbios ou profecias do George Romero. As evidências divulgadas nesta quarta-feira (02/03/11) são científicas, envolvendo (1) formigas zumbis e (2) uma origem para a praga quase nunca abordada em filmes: fungos. Nada de ira divina, Necronomicon ou mutações produzidas por cientistas maus ou ingênuos. Apenas fungos.
Na verdade, o fenômeno já era conhecido. E quem sabe há quanto tempo a infecção zumbi começou antes de percebermos. Mas os novos dados, ao revelarem quatro novas espécies de fungos capazes de infectar formigas, robustecem muito a idéia de que a praga zumbi pode ter se iniciado de um modo bastante sutil, literalmente debaixo do nosso nariz...
Pesquisa descobre fungos que geram 'formigas-zumbis' em MG
Em uma semana, insetos têm sentidos alterados e começam a 'vaguear'. Agora, cientistas querem saber como a relação influencia o ecossistema
Nova pesquisa publicada no jornal científico "PLoS One" e divulgada nesta quarta-feira (2) identifica quatro novas espécies de fungos capazes de gerar "formigas-zumbis". Isso ocorre no momento em que os fungos infectam os insetos e se distribuem pelo organismo, causando mudança de comportamento e até mesmo a morte de colônias inteiras. De autoria dos cientistas Harry Evans e David Hughes, o estudo "diversidade oculta em fungos de formigas-zumbis" analisa quatro novas espécies encontradas na Mata Atlântica de Minas Gerais, no Sudeste do país. A pesquisa ajuda a explicar a perda de biodiversidade entre insetos de determinadas espécies, já que cada fungo observado atua em um tipo de formiga.
A ação do fungo é capaz de travar as mandíbulas de formigas carpinteiras, local em que ele encontra condição ideal para começar a se reproduzir, infectando outros hospedeiros. Uma vez instalado, o fungo cresce no organismo e espalha substâncias que têm efeitos colaterais. A formiga infectada pode ter o comportamento alterado e não conseguir realizar suas atividades normais. Em questão de uma semana, de acordo com a pesquisa, a formiga pode ter seus sentidos totalmente afetados pelo fungo e começar a "vaguear" por perto da colônia. Quando morrem, ajudam a criar o ambiente ideal para a proliferação do fungo. Segundo os pesquisadores, existem relatos sobre os fungos de "formigas-zumbis" descritos já em meados do século 19 pelo naturalista Alfred Russel Wallace, contemporâneo de Charles Darwin, que encontrou duas espécies do fungo na Indonésia. Agora, autores do estudo querem saber como a ação dos fungos sobre as formigas influencia o funcionamento do ecossistema.
(Nota do C.I.: Ao menos em termos gerais, sabemos o efeito sobre o ecossistema: O APOCALIPSE ZUMBI. Contudo, aproveitando o tenso debate posterior com minha amiga Eveline, não tenho como garantir se o próximo degrau da infecção já contará com zumbis humanos ou se haverá etapas intermediárias com, por exemplo, tamanduás zumbis)
Nomeie objetos inanimados. Se eu pudesse dar apenas um conselho sobre o futuro, seria este: nomeie objetos inanimados. Os benefícios de se nomear objetos inanimados estão comprovados. Já o resto de meus conselhos não tem base confiável além de minha própria experiência. Dado que sou muito jovem pra ostentar conselhos na internet, recomendarei apenas a nomeação.
Quem viu Toy Story ou A Geladeira Diabólica já sabe meu argumento básico: nomear objetos inanimados é uma sábia medida preventiva. Vai que alguns deles (ou mesmo todos, vai saber...) são viventes secretos. Você já pensou que suas meias podem ter vida dupla? À exceção daqueles poucos segundos que você gasta pra eleger um par, as meias rejeitadas teriam o dia todo pra acumular ressentimentos e planejar sufocá-lo(a) durante o sono. Seu sono, leitor(a), não o delas. Porque temos de considerar a séria possibilidade de meias não dormirem... ou de serem sonâmbulas assassinas.
Uma vez desperto pros perigos de sua gaveta de meias, trema ao imaginar um mundo inteiro de objetos “inanimados” com vidas paralelas e rancores reprimidos. Os filmes trash não deixam dúvidas em uma coisa: formas de vida incomuns (zumbis, eletrodomésticos voadores, centopéias humanas...) são hostis, ainda mais quando magoadas. Se você não gosta que esqueçam ou errem seu nome, imagine uma vida inteira sem um nome para ser esquecido. E quanto uma toalha pode viver?
Assim, por prevenção, já nomeei um liquidificador de Sérgio, uma bike de Maria Helena, uma porta de Solange, entre outros tantos. Minha guitarra, Maria Helena II, tem até apelido.
Contudo, quando me senti protegido e contemplei o cenário com calma, descobri outro motivo pra nomear objetos: a compaixão. Nomeá-los é reconhecer sua dignidade como pessoas. É o início de uma convivência digna, baseada na aceitação verdadeira das diferenças. É um gesto de amor.
Nomeie seus objetos “inanimados”. Ajude a construir um mundo melhor e permaneça vivo pra vê-lo.
Kat, após se tornar zumbi, relendo Nietzsche (Zombie Strippers, 2008)
Segundo uma famosa história zen, um jovem estava seriamente angustiado com os conflitos atuais. Ele buscou em muitas direções um modo de resolver as coisas, mas permaneceu atordoado.
Numa noite, em uma cafeteira, um auto-ordenado mestre zen lhe disse: “Vá para a mansão caindo aos pedaços que encontrará no endereço que eu escrevi para você. Não fale com aqueles que lá vivem. Você deve permanecer em silêncio até que a lua nasça na noite seguinte. Vá para a grande sala à direita do corredor principal, sente-se na posição de lótus no topo dos escombros do canto nordeste, olhe para o canto e medite”.
Ele fez como o mestre lhe dissera. Mas sua meditação era frequentemente interrompida por preocupações. Ele se preocupava se iriam ou não cair os encanamentos do segundo andar para se juntarem aos escombros e canos nos quais ele estava sentado. Ele se preocupava se saberia quando a lua nasceria na próxima noite. Ele se preocupava sobre o que diziam a respeito dele as pessoas que ali passavam. Mas sua preocupação e meditação foram drasticamente perturbadas quando, como se testassem sua fé, excrementos do segundo andar caíram sobre ele. Nesse instante dois mendigos ali passavam. O primeiro perguntou quem era aquele homem ali sentado. O segundo respondeu: “Alguns dizem que ele é um homem santo. Outros dizem que ele é um bosta”. Ouvindo isso, o rapaz alcançou a Iluminação (Principia Discordia, p. 00005 – versão adaptada).
Antes de sair por aí atrás da merda alheia, espero que o leitor descubra uma casa abandonada bem mais próxima: a tosqueira. Talvez outra filosofia milenar possa clarear o argumento. Segundo o taoísmo, existem dois princípios complementares no universo, cuja dança interativa molda a realidade: yin e yang. Como meros exemplos de yin, temos a noite, o solo, a quietude. Como exemplos de yang, o dia, o céu, a agitação. Os dois se alternam ciclicamente: O yang nasce, se desenvolve, chega ao auge, começa a minguar e finalmente morre, transformando-se no yin que nasce e segue o mesmo caminho até dar lugar ao yang que nasce etc.
Noite e dia, trabalho e descanso, vida e morte. Com as coisas toscas (músicas, fatos da vida, qualquer coisa) acontece o mesmo. Como um dos meus exemplos preferidos, todo mundo tem sua lista mental de filmes bons e ruins. E essas listas tendem a ser mais ou menos parecidas entre si. A ausência de unanimidade não prejudica a essência do argumento. Na verdade, ajuda. Esses filmes são manifestações de yang e yin próximos de seu auge, quando sua qualidade tende a ser facilmente determinada. Mas, quando um filme chega ao máximo de seu atributo como bom ou ruim, ou seja, quando ele é bom demais ou ruim demais, a mágica acontece e ele começa a dar lugar à qualidade oposta.
Os filmes extraordinariamente bons já são cultuados como causadores de angústias e transformadores da alma. Não preciso comentar. Mas e as subestimadas tranqueiras? Filmes incrivelmente ruins, no limite do tolerável ou além, começam a ser, justamente por isso, bons. É um bom “diferente”, mas é bom. Por sua vez, a arquetípica jornada do herói, que metaforiza o processo profundo de amadurecimento para o qual teríamos potencial, muitas vezes começa com o aspirante seguindo algum ser incomum que o leva para a aventura do despertar. Temos em Alice seguindo o coelho branco um dos exemplos mais familiares. Assim, zumbis, mutantes e geladeiras diabólicas não seriam as entidades exóticas nos convidando a segui-los até o reino do desconhecido?
Pra terminar (ou não), as tosqueiras podem produzir os mesmos efeitos dos koans, aqueles pequenos textos zen que servem pra quebrar a linearidade da razão e os limites do ego. Um koan bastante famoso é "Qual é o som de uma única mão batendo palmas?" (atribuida a Hakuin Ekaku, tradição oral). O Grão Tosco não pode ser plenamente elaborado pela razão. Mulder revelou isto a Scully em um dos meus episódios favoritos de Arquivo X, quando flagrado assistindo ao clássico trash "Plano 9 do Espaço Sideral" (resenha em breve): "Eu assisto Plano 9 toda vez que preciso me concentrar em um problema difícil (...). O filme é tão incrivelmente ruim e infantil que derruba os centros lógicos do meu cérebro, permitindo saltos intuitivos que seriam impossíveis de outro jeito". Assim, se o que é tosco é bom e se a Sabedoria está em compreender verdadeiramente e além da lógica as dualidades do mundo sensível, como santo e bosta na história zen, vampiros que bebem catchup e alienígenas de papel machê podem ser, caro leitor, seu caminho pra Iluminação.
Esta não foi escrita pelo Tolkien, nem pelo Chris Carter. Depois de lutar pela independência da América espanhola, Francisco de Miranda assinou a rendição em 1812 e morreu preso na Espanha, em 1816. Ao menos assim consta oficialmente.
Mas os leitores atentos e críticos concordarão que temos aqui uma história mal contada. Por que, após uma labuta digna de Ulisses ou de John Rambo, ele se renderia daquela maneira, deixando emputecidos Bolivar e outros tantos?
Não vejo outra razão senão por uma luta ainda maior. As evidências que colhi em campo sugerem que as habilidades de Miranda convenceram os Illuminati a recrutá-lo para liderar a resistência contra o pior mal a assolar a humanidade desde os tempos mitológicos: as Górgonas. Elas aproveitaram a morte de Atena e outros deuses gregos, seus inimigos, pelas mãos do monoteísmo ocidental e voltaram com plena força. Em uma batalha desesperada, as tropas de Miranda derrotaram Esteno e Euríale, mas sucumbiram diante da Medusa, a mais famosa das três. E a grande batalha ocorreu no Brasil!! Prova incontestável deste fato histórico acobertado é o corpo de Miranda, em altiva posição de ataque, petrificado em plena Avenida Paulista.
Não se trata apenas de uma gravíssima omissão histórica. Os conspiradores silenciosos fizeram bem mais que apenas deixar uma sombra melancólica sobre o nome de Miranda. A manutenção do segredo impede que os cidadãos de bem peguem em armas contra o mal que ainda está solto e com sede de vingança. A Medusa ainda está entre nós. E está incrivelmente próxima. Minha investigação encontrou a prova definitiva de mais este estarrecedor fato bem no centro de Belo Horizonte. A dramaticidade dos corpos petrificados não deixa dúvidas sobre a sequência de acontecimentos. Pedro Nava passeava tranquilamente pela capital mineira quando chamou a atenção de seu companheiro de caminhadas, Drummond, para a estranha criatura sentada no banco da praça. "Olha, Carlos, o que é aquilo ali?", posso até ver a cena. E então eles encontraram seu destino.
Assim, espero que esta grave denúncia motive os leitores. Que a bravura acorde em suas entranhas e, tal como em Duck Tales, vocês sejam caçadores de aventuras. Localizem e eliminem a Medusa. Desnudem a farsa e ajudem a colocar os heróis petrificados em seu devido lugar na história. Eu disse "vocês" e não "nós" porque morro de medo dessas coisas.
Como amante das tosquices, deixo aqui algumas das pérolas colhidas em "Mutantes - Caminhos do Coração". Afinal, algumas coisas não devem ser esquecidas (e tampouco perdoadas). Ao lerem, tenham em mente que a intenção da novela é ser uma história de aventura e suspense... Só lamento não poder registrar aqui a melhor parte da novela. Toda história possui ao menos dois vetores: forma e conteúdo. Esta coletânea só consegue registrar partes do conteúdo. Mas a forma (o jeito como a história é contada, os efeitos especiais, os recursos narrativos, as atuações etc. etc.), que é ainda mais fantástica, eu fico devendo (exceto pela foto abaixo).
"Sapo-búfalo, vc viu um vampiro passando por aqui?" Sim, ele foi atrás do chapeleiro maluco. "Um metamorfo está atacando os convidados! Que babado é esse no meu casamento?" Imaginem o Nelson Rubens apresentando a bomba. Sério. Imaginem: "Socielite tem seu casamento arrasado por um lobisomem! Confira!" A intertextualidade enriquece a cena. "Você é muito mau", disse a mutante-sereia (rs!) pra um dos mutantes-fera (rs!!). Ou seria para o autor da novela? "Como vc é gentil, mesmo virando um lobisomem..." Eu também cederia a uma cantada dessas. "Eu já lutei contra mutantes-vampiros, mulheres-lobo, mutantes-feiticeiras..." Eu queria mesmo ter um currículo desses. Talvez eu tenha uma chance quando os zumbis aparecerem, o Necronomicon for encontrado e as demais bizarrices dos filmes, para as quais eu venho me preparando, acontecerem. "A gente você não vai comer, não! Tem comida aqui em casa, se você quiser. Tem até peixe". Nada como ser atacado por um mutante civilizado, que aceita discutir alternativas e gosta de fillet de morue au four. "Cuidado com o mutante vampiro!" Acabei de conferir debaixo da cama. "Pare de aparecer assim de repente ou eu vou lançar um raio em você!" Eu queria ser um mutante só pra dizer uma frase dessas. Talvez eu tenha uma chance quando for derrotado e transformado por alguma das abominações contra as quais venho me preparando.