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Sejam bem-vindos! Este blog é uma tentativa de exercitar a insanidade de modo construtivo ou de destruir convenções via sanidade. Tanto faz. Caso você se pergunte sobre a minha seriedade aqui, explico com um trecho do Principia Discordia:

"- Você fala realmente sério, ou o quê?
- Algumas vezes eu trato o humor seriamente. Algumas vezes eu trato a seriedade humoristicamente. De qualquer forma, é irrelevante.
- Talvez você só seja maluco.
- Verdade! Mas não rejeite estes ensinamentos como falsos só porque eu sou maluco. A razão pela qual eu sou maluco é porque eles são verdadeiros."

Namastê!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

CIDADÃO KANE – Resenha crítica de um filme que você (erradamente) nunca pensou em ver


Já era hora de resgatar um clássico “ortodoxo”. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) é dirigido e produzido por Orson Welles, que também faz o personagem principal. Foi um filme importante pra mim, na época em que certas decisões foram tomadas. E hoje, quando colho mais alguns bons frutos daquela decisão e o filme completa 70 anos, me deu vontade de comentá-lo e tentar convencer você a vê-lo.
Estranhou Cidadão Kane acompanhar A Camisinha Assassina, A Geladeira Diabólica e afins nesta seção do blog? Se as tosqueiras explícitas normalmente são negligenciadas por conta de sua “estranheza”, Cidadão Kane e outros grandes clássicos o são por sua antiguidade, ritmo mais “lento” de narrativa, ausência de cores fortes e grandes efeitos especiais etc. Em todos os casos, são filmes que a maioria das pessoas de hoje (erradamente) acaba não vendo. Todo mundo sabe que existem, mas quase ninguém vai lá conferir, como Shell Beach (Dark City, 1998) e a estrada abandonada que leva aos limites da realidade (13th Floor, 1999). Não sou aprioristicamente contra as modernidades hollywoodianas e a eventual diversão sem conteúdo. Só sugiro um equilíbrio via resgate das obras primas antigas, como Um Corpo que Cai (1958), Nosferatu (1922), Os Sete Samurais (1954)... E, como a substância última da realidade é o Tosco, tudo que dele deriva também o é, incluindo clássicos “ortodoxos” do cinema.
Bom, a obra prima da vez conta a história de um magnata da mídia, Charles Foster Kane, um menino pobre que enriquece e paga um preço por isso (na resenha de A Camisinha Assassina, eu não podia usar trocadilhos, mas agora posso). O filme começa pela morte de Kane, seguindo com a busca de um repórter pelo significado da última palavra do magnata no leito de morte: Rosebud. Aborda profundamente temas universais como poder, dinheiro, manipulação da opinião pública, solidão, felicidade, sensacionalismo, infância, que, portanto, guardam relação direta com sua vida, leitor(a) recém-chegado(a) de Velozes e Furiosos 5. É um daqueles filmes que pode ser interpretado sob incontáveis ângulos, edificantes em sua maioria. Um dos principais trata a distinção entre o que realmente traz felicidade e o que apenas ilude. Óbvio demais? Mas todos nós erramos feio nessas coisas e a grande maioria segue capengando até o final. Não estamos em condição de dispensar aprendizado, ainda mais pela arte, que consegue nos tocar com aquilo que, se apenas dito, seria banal.
O filme produziu diversos impactos no cinema, desde marcar a estréia de Orson Welles no gênero até novas técnicas de enquadramento e narrativa das quais alguns filmes que você glorifica são herdeiros. A obra foi um dos pilares daquele (mais ou menos) famoso documentário Muito Além do Cidadão Kane (1993), sobre a Rede Globo.
O filme de Welles foi feito para um público muito diferente do atual. As pessoas conseguiam fixar a atenção em um diálogo de vinte segundos sem se queixar que o filme é muito “parado”. As falas se desenrolavam articuladamente, com pausas naturais de respiração. Os cenários podiam ser admirados devagar. A trilha sonora conduzia o expectador como num sonho de domingo, quando não se tem pressa pra acordar. Já os filmes de hoje parecem não ter tempo pra si mesmos, como se alguém tivesse as calças em chamas.
Assim, filmes antigos como Cidadão Kane valem a pena por várias razões.  Eles quebram aquela nossa adrenalina habitual de ver filmes; dá até pra sentar. Frequentemente trazem ótimos enredos, até porque não havia recursos fáceis pra atrair o público, como explosões ou tecnologia 3D. Pode parecer estranho hoje, mas, antigamente, um filme precisava ter algo a dizer pra fazer sucesso. Partindo disso, vale lembrar que Cidadão Kane consta como o maior filme de todos os tempos em alguns rankings, como o da American Film Institute. Embora meu ranking seja um pouco diferente, alguma coisa tal classificação da AFI diz. Mesmo quando os enredos antigos parecem hoje “manjados”, é porque fizeram história e foram copiados à exaustão. Mas quem já subiu a serra sabe o quanto é bom beber da água do rio ainda na nascente...

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