Bem-vindos!

Sejam bem-vindos! Este blog é uma tentativa de exercitar a insanidade de modo construtivo ou de destruir convenções via sanidade. Tanto faz. Caso você se pergunte sobre a minha seriedade aqui, explico com um trecho do Principia Discordia:

"- Você fala realmente sério, ou o quê?
- Algumas vezes eu trato o humor seriamente. Algumas vezes eu trato a seriedade humoristicamente. De qualquer forma, é irrelevante.
- Talvez você só seja maluco.
- Verdade! Mas não rejeite estes ensinamentos como falsos só porque eu sou maluco. A razão pela qual eu sou maluco é porque eles são verdadeiros."

Namastê!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A CAMISINHA ASSASSINA – Resenha crítica de um filme que você (erradamente) nunca pensou em ver

Se me contassem isso duas semanas atrás, eu chamaria o cara de lunático. Agora a idéia é perfeitamente plausível. Nos dias de hoje, nos deparamos com notícias sobre internet, ciberspace, radiação... Por que não uma camisinha assassina?"
Luigi Mackeroni

O físico e escritor alemão Georg Lichtenberg escreveu: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas”. “Ou coisa pior”, completaria Luigi Mackeroni, o heróico detetive de A Camisinha Assassina (Kondom des Grauens, Alemanha, 1996). Tenho escrito sobre os perigos dos objetos inanimados. Mas os leitores riem e me dão tapinhas nas costas, sem entender que às vezes trato o humor seriamente e às vezes trato a seriedade humoristicamente. Esta é uma carta preocupada aos amigos. Então, chega de trocadilhos. Cansei de ambiguidades. Se as epístolas anteriores não foram fundo o bastante, esta será mais dura e penetrante. Como lá no interior, é hora de prosa reta.

Tire as crianças da sala. A Camisinha Assassina é um filme adulto. Sem vergonha, ele mostra a verdade nua e por dentro: na guerra contra os objetos inanimados, ninguém pode tirar o seu da reta. Acalme-se, leitor(a) à mercê dos hormônios: não há sexo explícito no filme. Nas poucas cenas do tipo, o sexo não é mostrado, mas apenas insinuado. Entenda que é um suspense/terror, com pitadas humorísticas. Ou o contrário. De qualquer forma, é irrelevante. Parece que cruzaram Arquivo X e Emmanuelle (de novo, pois já existia Emmanuelle, Rainha da Galáxia)...

Estimulada pelos quadrinhos de Ralph Konig, a película de Martin Walz se alonga em um hotel nova-iorquino de quinta (e não na 5ª) chamado Quickie (a famosa “Rapidinha”). Em um quarto tão vazio quanto o avião de Plano 9 do Espaço Sideral, um professor machista é atacado, sob as vistas da aluna que queria uma nota mais alta. Ela só consegue um Lá sustenido de terror.

Na delegacia onde paradoxalmente jazia molenga, o policial linha-dura Mackeroni se levanta e penetra o mistério de quatro mutilações no Quickie. Como em A Geladeira Diabólica, seria um alerta sobre os perigos de objetos autolimpantes (e esse ainda se fecharia na embalagem). Porém, com uma mãozinha do garoto de programa Billy e do travesti Babette, Mackeroni descobrirá que o buraco é mais embaixo.
O policial e Billy logo se envolvem, mas, antes que o amor se consumasse, a camisinha salta (!) e ataca Mackeroni.

Ela não acerta exatamente o alvo, mas leva um pequeno souvenir, deixando a intimidade do policial parecida com o Gonzo sem o olho direito.



Esse eufemismo foi dureza... Enfim, só então Mackeroni engole o imbróglio da camisinha. Aí me meto a perguntar se Lichteberg foi vítima de um tapa-orelhas assassino... De qualquer forma, a verdade seria desnudada mais rápido no Quickie se o investigador fosse o Mulder.
Mackeroni fica muito bolado (curiosamente, desbolado também serve) e decide arregaçar as mangas. Enfiando uma mangueira de gás entre as pernas como isca, ele consegue capturar, inflar e explodir uma camisinha. A autópsia revela um híbrido humano-borracha, fruto de manipulação genética. De novo os cientistas malucos e suas maravilhas escatológicas. 
Os ataques se multiplicam como coelhos. São, portanto, várias camisinhas assassinas. Jornais mostram o furo sem pudor: “Dickless Dick”, senador Dick McGouvern é abocanhado. Prometi parar com os trocadilhos, mas esse aparece no filme... As investigações chegam ao nome do desaparecido doutor Boris Smirnoff, um especialista em genética animal e em derivados de borracha... Pausa pra admirar o currículo do simpático velhinho...
Você consegue construir uma idéia concisa com os temas calabouço, Croácia, hospital, polícia, camisinha, capela, faxina, pau, nariz? Konig consegue e uma faxineira croata sem nariz (por culpa da camisinha) leva a polícia a um calabouço dentro da capela do hospital e o pau quebra. Os protagonistas se reúnem lá, onde as intenções são reveladas, assim como o surpreendente destino de Smirnoff. À beira do Apocalipse, Mackeroni desperta como o Neo dos guetos, o Escolhido pela camisinha-mãe gigante, por ser superdotado. Evitando maiores spoilers, pois rogo a Dionísio que você veja o filme, apenas digo que o confronto final é épico. Épico. Se você admira a tosquice, será catapultado aos píncaros do prazer.
Como exemplo do que sempre falei sobre o tosco como caminho espiritual, A Camisinha Assassina tem mensagens edificantes nestes tempos em que a diversidade ainda convive com a intolerância. É um filme sobre liberdade religiosa e sexual, igualdade de direitos e a vida nas grandes cidades, em que a derrota final cabe aos moralistas neuróticos. Por fim, já não tão certa é a derrota dos objetos inanimados, contra os quais todo cuidado é pouco. Prova disso é a conspiração quase silenciosa que conseguiu deter o projeto para um  filme.  Pena que não veremos Nova York inteira falando alemão de novo...
Foram usadas 240 camisinhas autênticas e 500 réplicas. Realmente fiquei cansado ao me meter em algo dessa magnitude. Embora longa e grosseira, espero que minha escritura tenha ido direto ao ponto, e que você tenha gostado tanto quanto eu. Mais algumas palavras amáveis e vou dormir de exaustão. Só pegará mal se, depois de tanto esforço meu, você estiver rindo...

Um comentário:

  1. Você é muito bom! Encontrei seu blog hoje, triste por não estar aproveitando-o desde que foi feito. Gostei demais das resenhas que faz dos filmes. Essa principalmente, cheia de trocadilhos e comentários muito inteligentes e hilariantes. Mesmo sendo bem tarde, fico feliz por finalmente ter encontrado este blog.

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