Bem-vindos!

Sejam bem-vindos! Este blog é uma tentativa de exercitar a insanidade de modo construtivo ou de destruir convenções via sanidade. Tanto faz. Caso você se pergunte sobre a minha seriedade aqui, explico com um trecho do Principia Discordia:

"- Você fala realmente sério, ou o quê?
- Algumas vezes eu trato o humor seriamente. Algumas vezes eu trato a seriedade humoristicamente. De qualquer forma, é irrelevante.
- Talvez você só seja maluco.
- Verdade! Mas não rejeite estes ensinamentos como falsos só porque eu sou maluco. A razão pela qual eu sou maluco é porque eles são verdadeiros."

Namastê!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A máscara caiu - parte 2

Esta é a segunda parte do relatório que reúne provas concretas e indisfarçáveis da realidade da Matrix. Pra entender melhor, veja a primeira parte do relatório.














E, por último, um clássico notório...



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Efeito dominó

Brincadeira de criança,
como é bom, como é bom.
Guardo ainda na lembrança,
como é bom, como é bom.
Paz, amor e esperança,
como é bom, como é bom.
Bom é ser feliz com Molejão.

Grupo Molejo

Seres deste e dos demais mundos, voltei. E trago mais um “causo” do ônibus. Esta é a história de como me ferrei dando ouvidos a Anderson Leonardo (talvez, por afinidade óbvia) e levei gente comigo. 
          Em uma tarde chuvosa, ali por volta de 2007, eu retornava à minha cidade no costumeiro pão de forma com rodas. Você chama de ônibus. Naquela hora e meia de sacolejante viagem em pé, minha amiga Ana propunha assuntos amenos, em vão. Então resolvi me entreter de outras formas, procurando aqui e ali. Bem antes daquela puxa-saquenta comemoração de gol estilo “João Sorrisão”, decidi brincar com a barra horizontal fixa no teto do ônibus, pendulando o corpo pra trás (solto a barra) e pra frente (pego a barra). Meu gosto por esportes radicais me impeliu a continuar mesmo com o ônibus em movimento pela estrada queijo-suiçenta. Estou muito neologístico hoje.
         Crianças se distraem com muito pouco; e a viagem ficou quase agradável. Pego a barra. Solto a barra. Pego a barra. Solto a barra. Buraco. Ônibus sacoleja. Pega a barra, pega a barra, pega a barra!! Como o peixe escapando nervoso entre os dedos de Gollum em As Duas Torres, a barra me fugia enquanto o corpo caía pra trás, ao som daquela voz interior que dura uma fração de segundo, uma janela de torpor no meio do caos. “Eu não acredito que tô caindo... caindo no ônibus... cheio de gente... Não! Eu não vou cair! Que desaforo!”
Orgulho renovado, meu corpo inteiro acordou. Lutando pela vida, cada parte mergulhou na tarefa de impedir a queda de todo o conjunto. Não pisque, leitor(a), porque tudo durou um segundo. A mão direita tentou achar uma barra vertical e esbofeteou a cara da Ana. Esbofeteou, enfiou o dedo no nariz, no olho, não sei; foi tudo muito rápido e melequento. O pé direito buscou apoio atrás e encontrou uma sinfonia de socks e crashs que faria inveja a cada antigo Batman.
E assim teve um prejuízo imenso quem resolveu deixar bem atrás de mim suas várias sacolas de supermercado. Nem imagino quantos ovos, potes de iogurte e caixas de leite meu 44 quebrou. Mas os sons sugeriram um novo recorde. Em um feito que, por si só, valeria um filme, meu pé esquerdo pisou em falso (pois eu estava de costas praquela porta do meio) e só encontrou apoio num degrau abaixo. Sem sustento, meu joelho girou pra esquerda e espremeu contra o vidro a cabeça da moça que dormia em paz no primeiro degrau.
A mão esquerda tateou o ar sem apoios pra segurar e rostos pra bater, até encontrar uma barra vertical. Assim, um segundo após o buraco na estrada, lá estava eu, olhos fechados, mais ou menos de pé (tombado pra trás), agarrado à barra com a fúria dos que não se rendem. Mesmo morrendo de vergonha, lembro que senti orgulho do meu esforço. Um cruel silêncio imperou no longo segundo seguinte.
Quando criança faz coisa errada, deixa ombros encolhidos e olhos fechados até as coisas se acalmarem. Só então ela se aventura a contemplar o estrago. E minha primeira visão foi uma mão estendida pra mim. Mesmo em silêncio, o sujeito foi tão enérgico e rápido que logo me senti acolhido, protegido. “Você matou minha filha!!!”; e lá se vai minha ilusão de ser importante. “Tô bem, papai...”, disse uma voz abafada debaixo do meu joelho.
A viagem seguiu como começou (exceto pelas mãos firmes na barra, o pai checando os dentes da filha e Ana tentando um meio-termo entre a dor, a vergonha alheia e a vontade quase incontrolável de rir). Sabe aquelas coisas de filme que a gente sempre quis um contexto legal pra dizer, tipo “siga aquele taxi” ou “Luke, eu sou seu pai”? Aquele seria o momento perfeito pra um “Estão olhando o quê??”

domingo, 16 de outubro de 2011

Ainda estou por aqui...

Crianças deste e dos demais mundos,

Ao contrário do blog, estou bastante agitado e cheio de novidades. Assim, fiquei meio sem tempo pra novas postagens, mal que pretendo remediar em breve. Por hora, só pra movimentar um pouco isto aqui e em nome do saudosismo, resolvi relembrar um clássico... Quem não conhece o Mr. Trololô?


Depois, nos videos relacionados, vocês podem (re)vê-lo cantando pra Hitler, conhecer Trololord Vader etc etc etc... Você está certo, caro Lucas: recordar é mesmo viver...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A máscara caiu: a Matrix existe e (finalmente) posso provar!


Após 30 anos de busca, a verdade me veio como um eureka na banheira.  Embora eu não tenha corrido pelado pelas ruas, a descoberta me perturbou profundamente. Afinal, uma coisa é desconfiar, outra é ter certeza: a Matrix existe, semelhante ao filme. A realidade “física”, “externa”, que você conhece é mesmo um “sonho” criado para nos ludibriar e entorpecer.

Mas eventuais falhas no véu de ilusão poderiam expor a farsa, como quando o projetor do cinema estraga no meio da sessão, “cortando do clima” e, num estalo, nos fazendo perceber o quanto estávamos hipnotizados pelo faz-de-conta. Ciente disso, sempre procurei tais falhas. Assim, minha investigação acabou por revelar que a Matrix deu reveladores “tilts” ao longo da história recente. Mas o acobertamento foi eficaz e quase ninguém percebeu as reais implicações. Por isso, reuni as provas e escrevi este dossiê. Pra reduzir o risco de você correr por aí como Arquimedes, algumas explicações iniciais poderão amenizar o impacto da verdade:

Um dia, Descartes parou e pensou: “Do que eu posso ter certeza? E se tudo isso ao redor for mentira, uma miragem?” A mesa, a casa, o céu, as pessoas, tudo poderia ser uma ilusória e persistente artimanha (um gozo perverso, Freud diria) de um gênio maligno sem nada melhor pra fazer. “E se toda vez que somo 2+2, o demônio me mostra a mesma resposta errada?” Como provar que não é esse o caso? Ao fim, a única certeza de Descartes era sua própria existência, pois aquelas dúvidas existiam, provando, ao menos, que o pensador delas existia. Se ele era de carne e osso, uma alma sem corpo presa em uma ilusão demoníaca ou um cérebro num jarro e ligado a eletrodos (como filosofariam mais tarde), isso era outra história.

Por sua vez, o ceticismo filosófico questiona seriamente a possibilidade de termos certezas absolutas (mesmo das coisas mais óbvias). Seus rivais do pragmatismo retrucam, dizendo que tanto faz a natureza última do que chamamos de realidade; viver como se ela fosse real bastaria.

Refinamentos à parte, o ponto aqui é: Você não precisa questionar tudo o tempo todo (pois, do contrário, talvez sequer fosse ao banheiro, diante da possibilidade do chão subitamente revelar sua inexistência concreta e largá-lo em um vazio infinito). Mas não custa ficar atento a pistas de que algumas (ou várias) coisas podem não ser o que aparentam. E talvez, a depender das evidências e/ou das implicações, valha a pena levar o conselho às últimas consequências...

O filme Matrix foi uma das tentativas mais interessantes de mostrar o princípio (tal como o RPG “Mago, a Ascensão”, a alegoria platônica da caverna, os gnósticos, entre outros tantos). O problema é que muita gente (a imensa maioria?...) mergulhou ainda mais na ilusão, naquilo que chamo de “efeito Arquivo X”: os “tilts” ou anomalias que desmascarariam a ilusão são depreciados como devaneios que fãs de ficção científica, masturbação mental etc. Perdi a conta do quanto já me disseram: “Você vê Arquivo X demais”. Assim, as anomalias ficam tão estigmatizadas enquanto “viagem” que a massa pouco crítica facilmente as subestima ou ignora no mundo "real". Como disse Morpheus,

Matrix é um sistema, Neo. Esse sistema é nosso inimigo. Mas quando você está dentro, o que você vê? Empresários, professores, advogados, carpinteiros, as mentes das pessoas que estamos tentando salvar. Mas até conseguirmos, essas pessoas ainda são uma parte desse sistema, e isso faz delas nossas inimigas. Você tem que entender, a maioria dessas pessoas não está pronta pra ser desligada. E muitos deles são tão acostumados, tão desesperadamente dependentes do sistema, que vão lutar pra protegê-lo”.

Cansado da situação, reuni neste documento ampla quantidade de vídeos que provam a existência da Matrix. Coleciono tais vídeos há muito tempo e agora julgo reunir corpo suficiente deles pra demonstrar minha tese. São vídeos comuns, aparentemente feitos por pessoas comuns. Mas, de modo descarado, registram momentos em que a “realidade” perde sua ilusória coerência e revela uma cósmica “pegadinha do Malandro”. Então você terá seu eureka e conhecerá evidências irrefutáveis de falhas na Matrix muito maiores e reveladoras que um gato passando duas vezes. Você poderá notar, inclusive, a exatidão das palavras do Oráculo em Matrix Reloaded (“Matrix 2”), quando disse a Neo que fantasmas, anjos, alienígenas e quaisquer seres estranhos vistos por aí são programas antigos que se esgueiram pela Matrix. Assim, você poderá ver alguns desses seres nos vídeos também.

O crítico rebaterá que vídeos podem ser falsificados. Verdade. Mas, neste caso, mesmo a falsificação é evidência direta da existência da Matrix. Não há como negar o caos completo ali registrado quando a "realidade" dá tilt e o véu de ilusão se rompe. As imagens são fortes e muito difíceis de assimilar. Mas lembre-se de Heráclito de Éfeso: “Por ser às vezes tão inacreditável, a verdade deixa de ser conhecida”. Como são muitos vídeos, colocarei alguns abaixo e outros nos comentários do post. Mais evidências se encontram distribuídas pelo blog.

Em Matrix Revolutions (“Matrix 3”), o Arquiteto (o Demiurgo em pessoa) diz que somos agora livres pra acordar quando quisermos. Então, após ver as provas abaixo, use seu livre-arbítrio sabiamente e responda: pílula azul ou vermelha?















segunda-feira, 20 de junho de 2011

CIDADÃO KANE – Resenha crítica de um filme que você (erradamente) nunca pensou em ver


Já era hora de resgatar um clássico “ortodoxo”. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) é dirigido e produzido por Orson Welles, que também faz o personagem principal. Foi um filme importante pra mim, na época em que certas decisões foram tomadas. E hoje, quando colho mais alguns bons frutos daquela decisão e o filme completa 70 anos, me deu vontade de comentá-lo e tentar convencer você a vê-lo.
Estranhou Cidadão Kane acompanhar A Camisinha Assassina, A Geladeira Diabólica e afins nesta seção do blog? Se as tosqueiras explícitas normalmente são negligenciadas por conta de sua “estranheza”, Cidadão Kane e outros grandes clássicos o são por sua antiguidade, ritmo mais “lento” de narrativa, ausência de cores fortes e grandes efeitos especiais etc. Em todos os casos, são filmes que a maioria das pessoas de hoje (erradamente) acaba não vendo. Todo mundo sabe que existem, mas quase ninguém vai lá conferir, como Shell Beach (Dark City, 1998) e a estrada abandonada que leva aos limites da realidade (13th Floor, 1999). Não sou aprioristicamente contra as modernidades hollywoodianas e a eventual diversão sem conteúdo. Só sugiro um equilíbrio via resgate das obras primas antigas, como Um Corpo que Cai (1958), Nosferatu (1922), Os Sete Samurais (1954)... E, como a substância última da realidade é o Tosco, tudo que dele deriva também o é, incluindo clássicos “ortodoxos” do cinema.
Bom, a obra prima da vez conta a história de um magnata da mídia, Charles Foster Kane, um menino pobre que enriquece e paga um preço por isso (na resenha de A Camisinha Assassina, eu não podia usar trocadilhos, mas agora posso). O filme começa pela morte de Kane, seguindo com a busca de um repórter pelo significado da última palavra do magnata no leito de morte: Rosebud. Aborda profundamente temas universais como poder, dinheiro, manipulação da opinião pública, solidão, felicidade, sensacionalismo, infância, que, portanto, guardam relação direta com sua vida, leitor(a) recém-chegado(a) de Velozes e Furiosos 5. É um daqueles filmes que pode ser interpretado sob incontáveis ângulos, edificantes em sua maioria. Um dos principais trata a distinção entre o que realmente traz felicidade e o que apenas ilude. Óbvio demais? Mas todos nós erramos feio nessas coisas e a grande maioria segue capengando até o final. Não estamos em condição de dispensar aprendizado, ainda mais pela arte, que consegue nos tocar com aquilo que, se apenas dito, seria banal.
O filme produziu diversos impactos no cinema, desde marcar a estréia de Orson Welles no gênero até novas técnicas de enquadramento e narrativa das quais alguns filmes que você glorifica são herdeiros. A obra foi um dos pilares daquele (mais ou menos) famoso documentário Muito Além do Cidadão Kane (1993), sobre a Rede Globo.
O filme de Welles foi feito para um público muito diferente do atual. As pessoas conseguiam fixar a atenção em um diálogo de vinte segundos sem se queixar que o filme é muito “parado”. As falas se desenrolavam articuladamente, com pausas naturais de respiração. Os cenários podiam ser admirados devagar. A trilha sonora conduzia o expectador como num sonho de domingo, quando não se tem pressa pra acordar. Já os filmes de hoje parecem não ter tempo pra si mesmos, como se alguém tivesse as calças em chamas.
Assim, filmes antigos como Cidadão Kane valem a pena por várias razões.  Eles quebram aquela nossa adrenalina habitual de ver filmes; dá até pra sentar. Frequentemente trazem ótimos enredos, até porque não havia recursos fáceis pra atrair o público, como explosões ou tecnologia 3D. Pode parecer estranho hoje, mas, antigamente, um filme precisava ter algo a dizer pra fazer sucesso. Partindo disso, vale lembrar que Cidadão Kane consta como o maior filme de todos os tempos em alguns rankings, como o da American Film Institute. Embora meu ranking seja um pouco diferente, alguma coisa tal classificação da AFI diz. Mesmo quando os enredos antigos parecem hoje “manjados”, é porque fizeram história e foram copiados à exaustão. Mas quem já subiu a serra sabe o quanto é bom beber da água do rio ainda na nascente...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Lá e de volta outra vez: The Big Bang Theory entre a ciência e o estereótipo


A 4ª temporada de TBBT acabou. Enquanto aguardo a 5ª, penso na magia que o fim de um ciclo desperta: a revisão crítica.
A 1ª temporada me surpreendeu positivamente. Embora lotada de caricaturas, como nerds socialmente inaptos e a vizinha gostosa/inculta, a série tinha um diferencial que valia a pena: muitas piadas eram sobre ciência ou tinham nela um componente vital. Sheldon fantasiado de Efeito Doppler é um exemplo clássico. Como se isso já não fosse ótimo, tantas outras piadas tinham em ícones nerd (filmes, séries, jogos, livros clássicos...) semelhante alicerce. A cena do RPG online em que o Sheldon rouba e vende a espada pro Howard no eBay é fantástica. Não tinha como eu não gostar.
Então vieram a 2ª e 3ª temporadas, quando a série alcançou maior sucesso e os ditames da audiência me pareceram pesar. As piadas então se concentraram exclusivamente nas esquisitices dos personagens, em detrimento dos ícones nerd e, principalmente, da ciência. A cada cena, os personagens pareciam jogar tortas na própria cara e gritar: “Olhe como sou esquisito! E olhe como isso é engraçado!” Como principal exemplo, as características da síndrome de Asperger cristalinamente presentes em Sheldon fizeram dele o personagem mais popular. A coisa virou uma espécie de “Friends nerd”, com direito ao retorno de Rachel e Ross (Penny e Leonard). Haja estereótipos. Não digo que não ri em tais temporadas ou que as piadas com conteúdo da 1ª não se nutriam também das esquisitices. Mas algo importante havia se perdido.
Alguns argumentaram que as piadas “científicas” e nerdísticas (adoro neologismos) eram inacessíveis ao grande público, e que a série agora havia se tornado mais inteligível. Se Sheldon ouvisse, ele provavelmente rebateria, acusando uma falácia da falsa dicotomia. Isso porque uma forma de piada não exclui a outra, como a 1ª temporada confirmou. Os primeiros roteiros também mostraram que o não-entendimento da piada “hermética” era em si uma (ótima e interativa) piada, como quando (não canso de lembrar) ninguém entendia a fantasia de Efeito Doppler do Sheldon, mesmo quando ele explicava. Além disso, pensando em uma TV mais útil, quão legal seria se clássicos da literatura, teorias científicas, biografias de grandes pensadores etc. fossem cada vez mais mostrados como interessantes, ao invés de menos...
Foi quando os deuses nérdicos (Arthur C. Clarke, Carl Sagan, Allan Poe...) ouviram minhas preces e as piadas sobre ciência e afins voltaram na 4ª temporada. Só pra exemplificar, aquele episódio das fofocas enquanto memes foi dos melhores. Também foi extraordinária a metralhadora de piadas científicas que o Sheldon bêbado se tornou em seu discurso de premiação.  E assim, TBBT foi como Bilbo Bolseiro, “lá e de volta outra vez”, das piadas verdadeiramente nerdísticas  a elas novamente. Agora posso dizer que aguardo ansioso a 5ª temporada.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A CAMISINHA ASSASSINA – Resenha crítica de um filme que você (erradamente) nunca pensou em ver

Se me contassem isso duas semanas atrás, eu chamaria o cara de lunático. Agora a idéia é perfeitamente plausível. Nos dias de hoje, nos deparamos com notícias sobre internet, ciberspace, radiação... Por que não uma camisinha assassina?"
Luigi Mackeroni

O físico e escritor alemão Georg Lichtenberg escreveu: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas”. “Ou coisa pior”, completaria Luigi Mackeroni, o heróico detetive de A Camisinha Assassina (Kondom des Grauens, Alemanha, 1996). Tenho escrito sobre os perigos dos objetos inanimados. Mas os leitores riem e me dão tapinhas nas costas, sem entender que às vezes trato o humor seriamente e às vezes trato a seriedade humoristicamente. Esta é uma carta preocupada aos amigos. Então, chega de trocadilhos. Cansei de ambiguidades. Se as epístolas anteriores não foram fundo o bastante, esta será mais dura e penetrante. Como lá no interior, é hora de prosa reta.

Tire as crianças da sala. A Camisinha Assassina é um filme adulto. Sem vergonha, ele mostra a verdade nua e por dentro: na guerra contra os objetos inanimados, ninguém pode tirar o seu da reta. Acalme-se, leitor(a) à mercê dos hormônios: não há sexo explícito no filme. Nas poucas cenas do tipo, o sexo não é mostrado, mas apenas insinuado. Entenda que é um suspense/terror, com pitadas humorísticas. Ou o contrário. De qualquer forma, é irrelevante. Parece que cruzaram Arquivo X e Emmanuelle (de novo, pois já existia Emmanuelle, Rainha da Galáxia)...

Estimulada pelos quadrinhos de Ralph Konig, a película de Martin Walz se alonga em um hotel nova-iorquino de quinta (e não na 5ª) chamado Quickie (a famosa “Rapidinha”). Em um quarto tão vazio quanto o avião de Plano 9 do Espaço Sideral, um professor machista é atacado, sob as vistas da aluna que queria uma nota mais alta. Ela só consegue um Lá sustenido de terror.

Na delegacia onde paradoxalmente jazia molenga, o policial linha-dura Mackeroni se levanta e penetra o mistério de quatro mutilações no Quickie. Como em A Geladeira Diabólica, seria um alerta sobre os perigos de objetos autolimpantes (e esse ainda se fecharia na embalagem). Porém, com uma mãozinha do garoto de programa Billy e do travesti Babette, Mackeroni descobrirá que o buraco é mais embaixo.
O policial e Billy logo se envolvem, mas, antes que o amor se consumasse, a camisinha salta (!) e ataca Mackeroni.

Ela não acerta exatamente o alvo, mas leva um pequeno souvenir, deixando a intimidade do policial parecida com o Gonzo sem o olho direito.



Esse eufemismo foi dureza... Enfim, só então Mackeroni engole o imbróglio da camisinha. Aí me meto a perguntar se Lichteberg foi vítima de um tapa-orelhas assassino... De qualquer forma, a verdade seria desnudada mais rápido no Quickie se o investigador fosse o Mulder.
Mackeroni fica muito bolado (curiosamente, desbolado também serve) e decide arregaçar as mangas. Enfiando uma mangueira de gás entre as pernas como isca, ele consegue capturar, inflar e explodir uma camisinha. A autópsia revela um híbrido humano-borracha, fruto de manipulação genética. De novo os cientistas malucos e suas maravilhas escatológicas. 
Os ataques se multiplicam como coelhos. São, portanto, várias camisinhas assassinas. Jornais mostram o furo sem pudor: “Dickless Dick”, senador Dick McGouvern é abocanhado. Prometi parar com os trocadilhos, mas esse aparece no filme... As investigações chegam ao nome do desaparecido doutor Boris Smirnoff, um especialista em genética animal e em derivados de borracha... Pausa pra admirar o currículo do simpático velhinho...
Você consegue construir uma idéia concisa com os temas calabouço, Croácia, hospital, polícia, camisinha, capela, faxina, pau, nariz? Konig consegue e uma faxineira croata sem nariz (por culpa da camisinha) leva a polícia a um calabouço dentro da capela do hospital e o pau quebra. Os protagonistas se reúnem lá, onde as intenções são reveladas, assim como o surpreendente destino de Smirnoff. À beira do Apocalipse, Mackeroni desperta como o Neo dos guetos, o Escolhido pela camisinha-mãe gigante, por ser superdotado. Evitando maiores spoilers, pois rogo a Dionísio que você veja o filme, apenas digo que o confronto final é épico. Épico. Se você admira a tosquice, será catapultado aos píncaros do prazer.
Como exemplo do que sempre falei sobre o tosco como caminho espiritual, A Camisinha Assassina tem mensagens edificantes nestes tempos em que a diversidade ainda convive com a intolerância. É um filme sobre liberdade religiosa e sexual, igualdade de direitos e a vida nas grandes cidades, em que a derrota final cabe aos moralistas neuróticos. Por fim, já não tão certa é a derrota dos objetos inanimados, contra os quais todo cuidado é pouco. Prova disso é a conspiração quase silenciosa que conseguiu deter o projeto para um  filme.  Pena que não veremos Nova York inteira falando alemão de novo...
Foram usadas 240 camisinhas autênticas e 500 réplicas. Realmente fiquei cansado ao me meter em algo dessa magnitude. Embora longa e grosseira, espero que minha escritura tenha ido direto ao ponto, e que você tenha gostado tanto quanto eu. Mais algumas palavras amáveis e vou dormir de exaustão. Só pegará mal se, depois de tanto esforço meu, você estiver rindo...

sábado, 30 de abril de 2011

O dia em que quase me afoguei no chuveiro



Numa época em que tantos se acham ou querem ser especiais, um grande clichê é “tem coisa que só acontece comigo”. Contudo, somos mais parecidos uns com os outros do que imaginamos. Tantas vezes ouvi o clichê acompanhado por histórias essencialmente iguais, mas consideradas irrepetíveis por cada inocente narrador. Afinal, quantos tiveram o pneu do carro furado quando atrasados? Quantos mancharam a camisa na hora de sair? Quantos quase se afogaram no chuveiro?
 Um dia desses, eu tentava esquecer o cansaço em um relaxante banho quente. O plano funcionou, e logo eu estava mergulhado em pensamentos sobre nanotecnologia aplicada a cerimônias religiosas. À dada altura, estava tão relaxado e feliz com meus progressos que me espreguicei. Estendi os braços e bocejei sem pudor, como aqueles ursos de desenho animado que acordam da hibernação.
Quase morri. No movimento natural de alongar todo o corpo, estendi o pescoço e olhei pra cima com a boca aberta do bocejo. E o chuveiro me despejou toda a água do Ganges traquéia abaixo. Eu não conseguiria tanto se fosse um daqueles concursos de beber refri valendo um carro.
No clímax do desespero, cabe uma digressão. Quando criança, quase me afoguei três vezes: duas em piscinas e uma num ribeirão. Na segunda vez em piscina, tive câimbra nos dois braços ao mesmo tempo e cheguei à borda só batendo pernas. Anos mais tarde, isso justificou minha simpatia pelo Roy, da Família Dinossauro. No ribeirão, eu já estava arrebentado e quase desmaiado antes do quase-afogamento começar. Parte da margem desmoronou e quiquei barranco abaixo até a água, como o Homer naquele episódio em que cai de skate na Garganta de Springfield. “Bart, o Destemido” é o nome do episódio. No meu caso, não há adjetivos gloriosos pra quem é içado da correnteza pela cueca. Assim, sei o que é passar aperto e vergonha com água.
Com tanto conhecimento de causa, logo concluí que a situação era séria (algumas vezes, meu chuveiro trata a seriedade humoristicamente. Algumas vezes, ele trata o humor seriamente. De qualquer forma, eu não conseguia respirar e tampouco gritar por ajuda). Além disso, é típico já estar com pouco ar no início do bocejo. Não bastasse a diversão, eu estava sozinho em casa. Portanto, sabia que tinha pouco tempo.
Deixemos a narrativa detalhada e dramática sobre a rápida queda das minhas funções vitais. A experiência subjetiva foi mais legal. Mentira. Foi uma bad trip, como assistir ao Faustão entrevistando ex-BBBs. É verdade o que dizem sobre toda a vida passar diante dos olhos, num misto de avaliação rigorosa e esforço desesperado pra aproveitar o resto. Na aflição, vários outros pensamentos também vieram: “Eu me recuso a morrer afogado no chuveiro! Ainda mais pelado!” Assim descobri que a perspectiva de ser visto nu pela família inteira dá uma enorme motivação pra lutar. Afogar no chuveiro com traje esporte fino seria mais elegante. Eu não estava mesmo vestido pra ocasião. “Calma: No meu lugar, o que MacGyver faria?” Costumo usar esse recurso quando diante de problemas concretos difíceis. Quando são abstratos, penso em Fox Mulder. “Se existir mesmo um ‘outro lado’ e me perguntarem lá sobre como morri, terei de mentir...” Sem sacanagem, eu pensei. Já imaginou sofrer bullying no além-túmulo por conta disso? Se bem que, dependendo do meu círculo de convivências por lá, não seria ruim conhecer o humor provavelmente refinado de Chaplin, Newton, Émilie du Châtelet, Machado de Assis, Da Vinci... Em compensação, eu poderia aguentar séculos de zoação implacável nas mãos de Ronald Golias, Dercy Gonçalves, Ed Wood, Alborghetti... Nada mais derrotista que o último consolo que me veio: Pelo menos aparecerei no Darwin Awards...”
Após muito esforço (mesmo), expeli a água intrusa e o ar começou a entrar. Foi como quando retirei aqueles sapatos 36 após uma manhã inteira de trabalho (eu já calçava 44... É história pra outro dia). Demorei uns 10 minutos pra realmente me recuperar, incluindo parar a tosse e respirar com naturalidade. Como a vivência do tempo é subjetiva, pareceram horas.
Esta narrativa é um convite, caríssimo leitor, pra que narre seu(s) quase-afogamento(s) no chuveiro. Fundemos uma associação. Façamos grupos de apoio. Criemos um manual pra emergências com páginas plastificadas (senão acontecerá como nas saídas de emergência nas janelas dos ônibus antigos, quando os vários procedimentos – não era apenas “pegue o martelo e use no vidro” – vinham descritos nos lacres de segurança e a primeira instrução era “quebre o lacre”). A demanda existe e precisamos nos mobilizar. Como já escrevi aqui, objetos “inanimados” são perigosos. E, no topo da minha lista, Pedro, o chuveiro.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL – Resenha crítica de um filme que você (erradamente) nunca pensou em ver

"Assisto Plano 9 toda vez que preciso me concentrar em um problema difícil (...). O filme é tão incrivelmente ruim e infantil que derruba os centros lógicos do meu cérebro, permitindo saltos intuitivos que seriam impossíveis de outro jeito".
Fox Mulder
(Arquivo X, 7ª temporada, episódio 19)

Voltei, cambada! Além do trabalho, sumi porque meu HD foi pro espaço. Falando nisso, vamos a uma resenha prometida faz tempo. Plano 9 do Espaço Sideral (Plan 9 From Outer Space, 1959) aparece em várias listas como o pior filme já feito (e talvez imaginado). E o pai da criança, Ed Wood, é frequentemente mencionado como o pior diretor de todos os tempos.

Penso ser ingenuidade encarar assim um dos meus filmes favoritos. Prefiro entender Plano 9 como a mais acurada coleção de profecias desde Edgar Cayce. E nisso o solene Criswell é claro já na primeira cena: Saudações, meus amigos. Todos nós temos interesse no futuro, pois lá é onde eu e você passaremos o resto de nossas vidas [eis a 1ª genial profecia; na época, não era um clichê]. E lembrem-se, meus amigos, que eventos futuros como estes irão afetá-los no futuro” [sic, juro... a 2ª profecia vem assim mesmo, na sequência e sem titubeio].  
O leitor fiel deve lembrar que uma das funções do blog é fomentar resistência ao apocalipse zumbi. E Ed Wood nos preparava pra esse evento desde muito. Passados mais de cinquenta anos do lançamento de Plano 9, podemos confirmar várias das profecias, o que me deixa confiante na exatidão das restantes (neste momento crítico, quem se importa com a “metáfora do peru cientista”??).
O filme trata de hostis alienígenas e discos voadores suspensos por barbantes tão visíveis quanto as raízes originais de cabelos pintados. Longe de uma precariedade nos efeitos especiais, o visionário diretor busca o artifício hipnótico do pêndulo. O som de liquidificador defeituoso emitido pelo disco fornece o chiado brando que completa o transe. É um jeito maquiavelicamente genial de nos manter sentados até o fim. Wood precisava garantir que receberíamos toda a mensagem.  
 Os alienígenas estão preocupados com o futuro desenvolvimento da bomba de... solaronite (sic, juro) pelos terráqueos “estúpidos, estúpidos!” (sic exaltado). Tal bomba “explodiria as partículas da luz solar” (sic), com uma indesejada reação em cadeia que destruiria nosso sol. Como se já não fosse grave, tal destruição se estenderia, como um “rastro de gasolina” (sic), até as demais estrelas. O efeito dominó aniquilaria, por consequência, todo o universo. Como é aterrador crescer e descobrir que minha ocasional raiva da humanidade (por maltratar animais etc.) era ingênua diante do que nossa espécie realmente pode fazer. Encontrei um prenúncio ainda mais terrível que o apocalipse zumbi: solaronite. É nossa 3ª profecia; não perca a conta.
Os extraterrestres tentam um contato amigável com nossos governantes, que, em resposta, apenas negam a existência dos discos voadores. Desconsolados, os visitantes decidem dominar a Terra. Pra isso, implementam o temível Plano 9, que se resume a... reviver os mortos. Eu não teria idéia mais coerente. Nem você. Tal genialidade simples e direta requer uma inteligência alienígena avançada pra concebê-la. Na vida real, o apocalipse zumbi será iniciado por extraterrestres? Os fungos que transformam formigas em zumbis (conforme noticiado aqui no blog) são alienígenas? Temo que seja essa a 4ª profecia.
Cavalheiresco, Wood deixa uma dama reviver primeiro. A “vampira” Maila Nurmi só é assim apresentada por conta do programa de TV que a fez famosa, “The Vampira Show”. Mas a ausência de caninos salientes e o caminhar pateticamente robótico e lento não deixam dúvidas: ela é uma zumbi clássica, prevendo George Romero (5ª profecia).



Já o segundo morto-vivo é um vampiro além de qualquer dúvida. Não bastassem o cabelo engomadinho e o centenário hábito de correr balançando a capa, ele é interpretado por ninguém menos que Bela Lugosi.
Mas ele faleceu em 1956, pouco depois de Wood tê-lo filmado sem ter idéia do Plano 9. Como Lugosi já era famoso antes no papel de vampiro, não sei se vê-lo como morto-vivo, três anos após sua morte real, foi redundância ou a 6ª profecia. Quero dizer, sei sim.
As demais aparições do vampiro são feitas com um dublê, o que explica seu rosto caricatamente escondido pela capa (com a qual – é razoável supor – um personagem idoso e convencional não seria enterrado. Mas um gênio indomado como Wood não imporia tais limitações à sua criatividade). Embora haja explicações simples, penso que o dublê era tão extraordinariamente parecido com Lugosi que seu rosto poderia assustar demais o público ainda em luto. E o rapaz se entregou apaixonadamente à tarefa de esconder a semelhança, deixando praticamente só o cabelo aparecer durante todo o filme. Haja dor no braço e amor pela arte.


Apenas mais um é revivido: o chefe de polícia. Décadas mais tarde, seu rosto se tornaria uma famosa máscara de halloween. Como a “vampira”, ele também se comporta como os zumbis que Romero tornaria clássicos. Reunir extraterrestres, zumbis e um vampiro no mesmo filme é muita ousadia. 



Aqui, uma escandalosa alusão ao apocalipse revelará nossa 7ª profecia. Pra quem pretendia criar um exército, os extraterrestres se contentaram com tão pouco? Mas a perspicácia é mesmo um dom e eles logo percebem a suficiente verdade: Lugosi, “vampira” e o policial seriam os 4 cavaleiros do apocalipse! Genial... Como diz aquele princípio universal do planejamento eficaz, seja entre terráqueos ou alienígenas, existem apenas 3 tipos de pessoas: as que sabem contar e as que não sabem.
Já Jeff Trent, o herói na história, é um piloto comercial cujos aviões se resumem a cubículos retangulares com duas cadeiras e uma cortina. Parece aquela música infantil sobre a casa muito engraçada que não tinha teto, não tinha nada. Assim, Wood concebeu as máquinas mentalmente controladas que só agora começam a surgir (8ª profecia e contando...). Aliás, a sala de reuniões dos extraterrestres tem decoração parecida (pouco mais que uma cadeira, uma mesa e a mesma cortina).

Nada mais previsível, já que eles são plenamente humanos, incluindo simpáticas barriguinhas de chopp alienígena (servido naquele bar maluco de Star Wars) e roupas da era da discoteca (9ª profecia). Aliás, nem os avanços tecnológicos de uma adiantada civilização espacial curarão a calvície (10ª).
Mas, diferente do avião que dispensa qualquer equipamento, o disco precisa de caixas metálicas com botões, ponteiros e fios tão familiares a nós. Portanto, em um misto de denúncia e profecia (a 11ª), o ousado Wood sugere que nosso desenvolvimento tecnológico, à época e no futuro, se basearia em ciência alienígena adquirida de discos voadores capturados pelo governo norte-americano. Não é à toa que Mulder é fã dele.  
 No mesmo embalo criativo, as lápides falsas caem ao sabor do vento. Imagino serem protótipos do cemitério da Barbie, que não fez tanto sucesso quanto a casa da Barbie, o carro, e por isso você nunca ouviu falar (mas você viu o tamanho das lápides na foto do pseudo-Lugosi. E a Barbie foi lançada justamente em 1959. Coincidência?). Filmagens diurnas e noturnas se alternam sem critério (um distúrbio temporal causado pelo campo magnético da nave?). Os diálogos são fascinantes. Filmes reais antigos do exército americano são usados e destoam das demais imagens em cor, textura... Aliás, tudo destoa de tudo, com cortes abruptos e uma narrativa tão fragmentada que parece psicótica.
Daí em diante é ladeira abaixo. Os mocinhos, liderados por Trent, lutam contra os mortos-vivos e finalmente chegam ao disco voador pousado no cemitério. Uma vez lá, Trent sai no braço com um dos extraterrestres, Eros (sic, juro). Na verdade, foi quase uma daquelas brigas de abraçar e puxar cabelo. Mas é reconfortante saber que o avanço tecnológico não extinguirá esse lado inofensivo da barbárie (12ª...). Na confusão, os equipamentos explodem e os mocinhos fogem. A nave incendiada decola e explode no céu. O tamanho das chamas revela uma descarada maquete de poucos centímetros de diâmetro. No solo, Trent e uns gatos pingados se perguntam se a ameaça acabou. O plano 9 não funcionou, mas nada sabemos sobre os terríveis 8, 7, 6... e sabe-se lá se 10, 11, 12...
O texto ficou grande. Mas a genialidade e a coragem de Wood não permitiriam menos. Na verdade, tive de me conter pra não escrever muito mais. De todo modo, os recados básicos foram dados. O apocalipse zumbi bate à nossa porta, por iniciativa extraterrestre. Os 4 cavaleiros do apocalipse virão de acompanhamento, junto com a salada. A calvície permanecerá sem cura. As brigas de puxar cabelo nunca acabarão. E ainda teremos de lidar com a solaronite no futuro, exatamente onde passaremos o resto de nossas vidas... pois acontecimentos futuros afetarão (precisamente) nosso futuro. Faço minhas as solenes palavras com que Criswell encerra o filme: “Meu amigo, você viu este incidente baseado em um testemunho jurado. Você pode provar que não aconteceu [eu acrescentaria: ou que não acontecerá]? Talvez em seu caminho de casa, você cruze com alguém na escuridão e nunca saberá se eles são do espaço sideral. Muitos cientistas acreditam que outro mundo está nos vendo neste momento. Nós rimos uma vez da carruagem sem cavalo, do avião, do telefone, da luz elétrica, das vitaminas, do rádio e até da televisão. E agora alguns de nós rimos do espaço sideral. Deus nos ajude... no futuro”.

domingo, 13 de março de 2011

REPORTAGEM ESPECIAL - C.I. foi ao show de Tarja Turunen em São Paulo (12/03/11)


Esmagador. Essa é uma das palavras que define razoavelmente o show de Tarja Turunen, soprano finlandesa e ex-vocalista do Nightwish, ontem em Sampa. Sua performance foi intensa, consistente e inspirada. Como ela já mencionou em diversas oportunidades, o público brasileiro é o mais "louco" (sic) e ela respondeu à altura e de modo emocionado ao frenesi do HSBC Brasil lotado. Ao contrário da postura um pouco apática vista em alguns shows desta turnê (compreensível em função do cansaço de apresentações consecutivas em países diferentes), ontem ela estava solta e com ótima presença de palco, vibrou muito com a massa, conversou várias vezes em português e chegou a demonstrar surpresa e decorrente emoção pelo público cantar em uníssono todas as músicas do set. Não é difícil entender a surpresa se compararmos com os videos dos demais shows da turnê, quando todo mundo grita e quase ninguém canta. Ontem todos participamos de um coral sincronizado, robusto e constante. Fico arrepiado quando me lembro.
Além do mais, aproveitando o que disse o Zé João em sua entrevista aqui no blog, a questionável postura do Nightwish ao demitir a Tarja e ao contratar uma vocalista com um timbre de voz completamente diferente gerou uma lacuna definitiva. Assim, o mais próximo que temos de ver e ouvir ao vivo o "velho Nightwish executando seus clássicos" é com a Tarja atual. E ontem nós vimos e ouvimos Wishmaster, Higher Than Hope, Stargazers...
Outro destaque foi Mike Terrana, o batera. O cara é uma figura e levantou o público, especialmente quando quebrou tudo com um solo cabuloso (ops!) em cima da famosa Abertura de Guilherme Tell, de Rossini.
Claro que há ressalvas. Falta de educação e mal-entendidos marcaram a fila. O set list não foi aquele dos meus sonhos; eu faria, pelo menos, duas ou três mudanças (sem contar que considero ainda faltar um certo amadurecimento na maioria das composições). O adjetivo "esmagador", que inicia o texto, descreve muito bem a situação perto do palco. Faltou discernimento de parte do público sobre o papel de uma banda de abertura; e os simpáticos membros da Ecliptyka pagaram o preço da impaciência de alguns.


Ainda bem que guardavam meu lugar na fila quando eu ia ao banheiro...

De qualquer modo, foi uma experiência única. Única. A relação que se estabeleceu entre a vibração louca (mas coesa) do público e a postura intensa da Tarja fez do show uma experiência transpessoal. Aquilo ali virou um organismo enorme, pulsante e docemente insano. Por tudo isso,  posso dizer com tranquilidade que foi o melhor show da minha vida.
As duas fotos acima são minhas. Pensei em postar outras abaixo pra ilustrar, mas minha máquina não compete com as profissionais, de modo que preferi as excepcionais fotos do iG Cultura. Suponho que não há problema em postá-las se eu citar a fonte (Caso queira ver todas, clique aqui). Detalhe: através de várias pistas, identifiquei e assinalei minha mão na primeira foto abaixo (clique pra ampliar).














sábado, 5 de março de 2011

O apocalipse zumbi pode já ter começado!!!

Alarmem-se, crianças: o temido apocalipse zumbi, para o qual temos nos preparado nos últimos anos, pode já ter começado!! Bom, isso você já anunciou no título... Eu sei que anunciei, Zé. Mas foi o jeito impactante que achei pra começar o texto... Mas, se você já disse no título, a repetição no texto não produz impacto algum. Zé, volte pra sua aula de fondue e me deixe continuar. Bom, não me refiro a teorias conspiratórias, indícios dúbios ou profecias do George Romero. As evidências divulgadas nesta quarta-feira (02/03/11) são científicas, envolvendo (1) formigas zumbis e (2) uma origem para a praga quase nunca abordada em filmes: fungos. Nada de ira divina, Necronomicon ou mutações produzidas por cientistas maus ou ingênuos. Apenas fungos.
Na verdade, o fenômeno já era conhecido. E quem sabe há quanto tempo a infecção zumbi começou antes de percebermos. Mas os novos dados, ao revelarem quatro novas espécies de fungos capazes de  infectar formigas, robustecem muito a idéia de que a praga zumbi pode ter se iniciado de um modo bastante sutil, literalmente debaixo do nosso nariz...



Pesquisa descobre fungos que geram 'formigas-zumbis' em MG

Em uma semana, insetos têm sentidos alterados e começam a 'vaguear'. Agora, cientistas querem saber como a relação influencia o ecossistema

Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/03/pesquisa-descobre-fungos-que-geram-formigas-zumbis-em-mg.html



Nova pesquisa publicada no jornal científico "PLoS One" e divulgada nesta quarta-feira (2) identifica quatro novas espécies de fungos capazes de gerar "formigas-zumbis". Isso ocorre no momento em que os fungos infectam os insetos e se distribuem pelo organismo, causando mudança de comportamento e até mesmo a morte de colônias inteiras.
De autoria dos cientistas Harry Evans e David Hughes, o estudo "diversidade oculta em fungos de formigas-zumbis" analisa quatro novas espécies encontradas na Mata Atlântica de Minas Gerais, no Sudeste do país. A pesquisa ajuda a explicar a perda de biodiversidade entre insetos de determinadas espécies, já que cada fungo observado atua em um tipo de formiga.
A ação do fungo é capaz de travar as mandíbulas de formigas carpinteiras, local em que ele encontra condição ideal para começar a se reproduzir, infectando outros hospedeiros. Uma vez instalado, o fungo cresce no organismo e espalha substâncias que têm efeitos colaterais.
A formiga infectada pode ter o comportamento alterado e não conseguir realizar suas atividades normais. Em questão de uma semana, de acordo com a pesquisa, a formiga pode ter seus sentidos totalmente afetados pelo fungo e começar a "vaguear" por perto da colônia. Quando morrem, ajudam a criar o ambiente ideal para a proliferação do fungo.
Segundo os pesquisadores, existem relatos sobre os fungos de "formigas-zumbis" descritos já em meados do século 19 pelo naturalista Alfred Russel Wallace, contemporâneo de Charles Darwin, que encontrou duas espécies do fungo na Indonésia. Agora, autores do estudo querem saber como a ação dos fungos sobre as formigas influencia o funcionamento do ecossistema.

(Nota do C.I.: Ao menos em termos gerais, sabemos o efeito sobre o ecossistema: O APOCALIPSE ZUMBI. Contudo, aproveitando o tenso debate posterior com minha amiga Eveline, não tenho como garantir se o próximo degrau da infecção já contará com zumbis humanos ou se haverá etapas intermediárias com, por exemplo, tamanduás zumbis)