A 4ª temporada de TBBT acabou. Enquanto aguardo a 5ª, penso na magia que o fim de um ciclo desperta: a revisão crítica.
A 1ª temporada me surpreendeu positivamente. Embora lotada de caricaturas, como nerds socialmente inaptos e a vizinha gostosa/inculta, a série tinha um diferencial que valia a pena: muitas piadas eram sobre ciência ou tinham nela um componente vital. Sheldon fantasiado de Efeito Doppler é um exemplo clássico. Como se isso já não fosse ótimo, tantas outras piadas tinham em ícones nerd (filmes, séries, jogos, livros clássicos...) semelhante alicerce. A cena do RPG online em que o Sheldon rouba e vende a espada pro Howard no eBay é fantástica. Não tinha como eu não gostar.
Então vieram a 2ª e 3ª temporadas, quando a série alcançou maior sucesso e os ditames da audiência me pareceram pesar. As piadas então se concentraram exclusivamente nas esquisitices dos personagens, em detrimento dos ícones nerd e, principalmente, da ciência. A cada cena, os personagens pareciam jogar tortas na própria cara e gritar: “Olhe como sou esquisito! E olhe como isso é engraçado!” Como principal exemplo, as características da síndrome de Asperger cristalinamente presentes em Sheldon fizeram dele o personagem mais popular. A coisa virou uma espécie de “Friends nerd”, com direito ao retorno de Rachel e Ross (Penny e Leonard). Haja estereótipos. Não digo que não ri em tais temporadas ou que as piadas com conteúdo da 1ª não se nutriam também das esquisitices. Mas algo importante havia se perdido.
Alguns argumentaram que as piadas “científicas” e nerdísticas (adoro neologismos) eram inacessíveis ao grande público, e que a série agora havia se tornado mais inteligível. Se Sheldon ouvisse, ele provavelmente rebateria, acusando uma falácia da falsa dicotomia. Isso porque uma forma de piada não exclui a outra, como a 1ª temporada confirmou. Os primeiros roteiros também mostraram que o não-entendimento da piada “hermética” era em si uma (ótima e interativa) piada, como quando (não canso de lembrar) ninguém entendia a fantasia de Efeito Doppler do Sheldon, mesmo quando ele explicava. Além disso, pensando em uma TV mais útil, quão legal seria se clássicos da literatura, teorias científicas, biografias de grandes pensadores etc. fossem cada vez mais mostrados como interessantes, ao invés de menos...
Foi quando os deuses nérdicos (Arthur C. Clarke, Carl Sagan, Allan Poe...) ouviram minhas preces e as piadas sobre ciência e afins voltaram na 4ª temporada. Só pra exemplificar, aquele episódio das fofocas enquanto memes foi dos melhores. Também foi extraordinária a metralhadora de piadas científicas que o Sheldon bêbado se tornou em seu discurso de premiação. E assim, TBBT foi como Bilbo Bolseiro, “lá e de volta outra vez”, das piadas verdadeiramente nerdísticas a elas novamente. Agora posso dizer que aguardo ansioso a 5ª temporada.