Este já nasceu clássico. A centopéia humana (The human centipede, 2009) conta a história de um cirurgião aposentado, Dr. Joseph Heiter, que resolve usar sua perícia em separar irmãos siameses pra... criar pessoas siamesas. Ah, os gênios... Sem visionários como Heiter, não teríamos o pirocóptero, o sutiã que vira máscara de gás e os óculos com funil pra facilitar o colírio. Heiter pretende que três indivíduos sejam costurados uns aos outros, de modo a formar um único tubo digestivo.
Eu sei, gente... Defendo muito a pesquisa básica, mas isso também é demais. Assim, se você parar de ler aqui, nem ficarei magoado. Mas, na verdade, é meu tipo preferido de trash: tosco com a intenção de ser sério. A premissa consegue ser mais ridícula que em A Geladeira Diabólica, Dracula 3000 (já comentados no blog) e tantos outros. Já que a criação da centopéia se resume a pouco mais que costurar bocas em anus (eu sei... eca), o “novo organismo” sequer sobreviveria o suficiente pra recuperação pós-operatória. Aparece uma mensagem no trailer dizendo “100% medically accurate”. Sim... tanto quanto A Camisinha Assassina (resenha em breve).
Como cientista convencionalmente cruel, Heiter inicia com experimentos em animais. Assim, ele cria uma centopéia canina com três hot vailers. E deu certo... Então, Heiter implementa o próximo e natural passo: humanos. Poucas vezes senti tanta “vergonha alheia” quanto ao ver os atores formando a centopéia, andando de quatro e com a cara grudada na bunda um do outro. A cena do despertar pretendia ser comovente: as vítimas chorando de terror e o cirurgião de alegria. Mas talvez chorassem por sua participação no filme. Depois das cenas de Heiter adestrando a centopéia no quintal, a Vanusa pode cantar como quiser e eu nem me importarei. Meu coração se petrificou.
Heiter é o cientista maluco mais sortudo da história. Neste mundo enorme, as vítimas resolvem “amarrar o gato” nas moitas ao lado de onde ele aguarda. Sua casa fica no meio do nada e carros de turistas desavisados pifam injustificadamente quase no seu jardim. A última vítima, um japonês compreensivelmente desbocado, já aparece carregado e com um dardo tranquilizante no quadril. Acho que Heiter deixou o dardo sobre uma pedra e, enquanto preparava o rifle, a vítima sentou em cima. Mesmo com uma cara indisfarçável de psicopata (não que ele tentasse esconder) e dizendo logo de cara que odeia seres humanos, Lindsay e Jenny permanecem na casa do médico e aceitam beber a “água batizada” que as desmaiaria.
Mais uma prova de sua sorte sobrenatural: o porte do Heiter é pouca coisa melhor que o do Sr. Burns. Eu não seria tão otimista quanto à idade. No início, até achei ser um filme sobre zumbis ou vampiros. Assim, bastaria um soco, uma rasteira ou mesmo um susto tipo “bu!” pro velho cair morto e o filme acabar. Ainda assim, ele faz um imenso estrago, incluindo estar quase morto no chão e esfaquear o pescoço de um policial de pé, armado e 70 anos mais jovem. Há uma cena em que Lindsay recebe um tiro de tranquilizante pelas costas, se contorce e leva cinco minutos pra cair, revelando atrás de si Heiter ainda em posição de tiro. Estiloso? Não, é lentidão mesmo.
O filme é um desfile de clichês como raramente vi. Um cientista alemão maluco com voz de tumba, aquele sotaque clássico ao falar inglês e uma aparência que mistura Hitler e Mao Tsé-Tung, mulheres histéricas, emboscadas, becos sem saída, escadarias, maniqueísmo inflexível, rifles primariamente escondidos pelo sobretudo e todas as demais caricaturas, tudo à enésima potência. Mas há uma explicação. A idéia de uma centopéia humana demandou tanta energia criativa que não sobrou pro resto do enredo. E se a única criatividade do filme é uma implausibilidade completa, o que resta, então?
As atuações são tão sofríveis como em Mutantes – Caminhos do Coração. Ponto pro filme! Imaginar os testes de elenco me divertiu por dias. O enredo é cheio de escatologias. Em consideração à minha pizza de daqui a pouco, troco minha descrição pela imaginação de quem lê. A história segue arrastada, artificial, de modo que a mísera hora e meia de filme é levada a custo. Pensa que Tom Six, o diretor, ficou aliviado quando conseguiu acabar? No início, o título é acompanhado pelos dizeres “Primeira parte” (First sequence). Essa maravilha tem continuação, prevista pra 2011!! E Six promete mostrar uma centopéia formada por 12 pessoas!!! Eu sei, gente...
Eis o trailer. Como dizem, é só pra dar um gostinho na boca (Ops... Expressão infeliz pra ocasião):