Wow! Isso faz muito mais sentido agora!
Kat, após se tornar zumbi, relendo Nietzsche
(Zombie Strippers, 2008)
(Zombie Strippers, 2008)
Segundo uma famosa história zen, um jovem estava seriamente angustiado com os conflitos atuais. Ele buscou em muitas direções um modo de resolver as coisas, mas permaneceu atordoado.
Numa noite, em uma cafeteira, um auto-ordenado mestre zen lhe disse: “Vá para a mansão caindo aos pedaços que encontrará no endereço que eu escrevi para você. Não fale com aqueles que lá vivem. Você deve permanecer em silêncio até que a lua nasça na noite seguinte. Vá para a grande sala à direita do corredor principal, sente-se na posição de lótus no topo dos escombros do canto nordeste, olhe para o canto e medite”.
Ele fez como o mestre lhe dissera. Mas sua meditação era frequentemente interrompida por preocupações. Ele se preocupava se iriam ou não cair os encanamentos do segundo andar para se juntarem aos escombros e canos nos quais ele estava sentado. Ele se preocupava se saberia quando a lua nasceria na próxima noite. Ele se preocupava sobre o que diziam a respeito dele as pessoas que ali passavam. Mas sua preocupação e meditação foram drasticamente perturbadas quando, como se testassem sua fé, excrementos do segundo andar caíram sobre ele. Nesse instante dois mendigos ali passavam. O primeiro perguntou quem era aquele homem ali sentado. O segundo respondeu: “Alguns dizem que ele é um homem santo. Outros dizem que ele é um bosta”. Ouvindo isso, o rapaz alcançou a Iluminação (Principia Discordia, p. 00005 – versão adaptada).
Antes de sair por aí atrás da merda alheia, espero que o leitor descubra uma casa abandonada bem mais próxima: a tosqueira. Talvez outra filosofia milenar possa clarear o argumento. Segundo o taoísmo, existem dois princípios complementares no universo, cuja dança interativa molda a realidade: yin e yang. Como meros exemplos de yin, temos a noite, o solo, a quietude. Como exemplos de yang, o dia, o céu, a agitação. Os dois se alternam ciclicamente: O yang nasce, se desenvolve, chega ao auge, começa a minguar e finalmente morre, transformando-se no yin que nasce e segue o mesmo caminho até dar lugar ao yang que nasce etc.
Noite e dia, trabalho e descanso, vida e morte. Com as coisas toscas (músicas, fatos da vida, qualquer coisa) acontece o mesmo. Como um dos meus exemplos preferidos, todo mundo tem sua lista mental de filmes bons e ruins. E essas listas tendem a ser mais ou menos parecidas entre si. A ausência de unanimidade não prejudica a essência do argumento. Na verdade, ajuda. Esses filmes são manifestações de yang e yin próximos de seu auge, quando sua qualidade tende a ser facilmente determinada. Mas, quando um filme chega ao máximo de seu atributo como bom ou ruim, ou seja, quando ele é bom demais ou ruim demais, a mágica acontece e ele começa a dar lugar à qualidade oposta.
Os filmes extraordinariamente bons já são cultuados como causadores de angústias e transformadores da alma. Não preciso comentar. Mas e as subestimadas tranqueiras? Filmes incrivelmente ruins, no limite do tolerável ou além, começam a ser, justamente por isso, bons. É um bom “diferente”, mas é bom.
Por sua vez, a arquetípica jornada do herói, que metaforiza o processo profundo de amadurecimento para o qual teríamos potencial, muitas vezes começa com o aspirante seguindo algum ser incomum que o leva para a aventura do despertar. Temos em Alice seguindo o coelho branco um dos exemplos mais familiares. Assim, zumbis, mutantes e geladeiras diabólicas não seriam as entidades exóticas nos convidando a segui-los até o reino do desconhecido?
Por sua vez, a arquetípica jornada do herói, que metaforiza o processo profundo de amadurecimento para o qual teríamos potencial, muitas vezes começa com o aspirante seguindo algum ser incomum que o leva para a aventura do despertar. Temos em Alice seguindo o coelho branco um dos exemplos mais familiares. Assim, zumbis, mutantes e geladeiras diabólicas não seriam as entidades exóticas nos convidando a segui-los até o reino do desconhecido?
Pra terminar (ou não), as tosqueiras podem produzir os mesmos efeitos dos koans, aqueles pequenos textos zen que servem pra quebrar a linearidade da razão e os limites do ego. Um koan bastante famoso é "Qual é o som de uma única mão batendo palmas?" (atribuida a Hakuin Ekaku, tradição oral). O Grão Tosco não pode ser plenamente elaborado pela razão. Mulder revelou isto a Scully em um dos meus episódios favoritos de Arquivo X, quando flagrado assistindo ao clássico trash "Plano 9 do Espaço Sideral" (resenha em breve): "Eu assisto Plano 9 toda vez que preciso me concentrar em um problema difícil (...). O filme é tão incrivelmente ruim e infantil que derruba os centros lógicos do meu cérebro, permitindo saltos intuitivos que seriam impossíveis de outro jeito".
Assim, se o que é tosco é bom e se a Sabedoria está em compreender verdadeiramente e além da lógica as dualidades do mundo sensível, como santo e bosta na história zen, vampiros que bebem catchup e alienígenas de papel machê podem ser, caro leitor, seu caminho pra Iluminação.
Assim, se o que é tosco é bom e se a Sabedoria está em compreender verdadeiramente e além da lógica as dualidades do mundo sensível, como santo e bosta na história zen, vampiros que bebem catchup e alienígenas de papel machê podem ser, caro leitor, seu caminho pra Iluminação.
Penso ser uma boa reflexão para este início de ano.
ResponderExcluirPreocupações sobre quem a pessoa é, ou sobre o que os outros pensam é algo bem comum. Adorei o texto, eu já tinha ouvido falar em Yin Yang, mas nunca soube o que era.
ResponderExcluirEstou te seguindo, segue meu blog também?
http://instantevivido.blogspot.com/
Beijos.
Boa reflexão. Claro, "o que é tosco e o que não é" dependem da pessoa e/ou da cultura. Curti o último relato: precisamos também saber fazer o que é ruim nos levar ao que é bom, à iluminação, a uma resposta. O que é ruim é um teste, talvez...
ResponderExcluirO Excelente e o tosco devem viver em comunhão para que o mundo mantenha-se firme, com polos de oposição bem definidos.
ResponderExcluirTexto muito bom!
Abraço
kkkk que coisa entranha! ou Tosco! xDD
ResponderExcluirMuito bom seu blog já estou seguindo ^^
Do Nada!
www.doonada.blogspot.com
boa reflexao ! beeeeeem legal mesmo !!
ResponderExcluirAdoro quando as pessoas acham que tô falando sério... até pq tô mesmo... ou não... Vai saber...
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